sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O duelo das profissões

Que semaninha de índio!

Na realidade não faço ideia porque falamos que fizemos uma "indiada". Como se índios fizessem apenas coisas doidas e estranhas. Mas enfim, aderindo à figura de linguagem...essa semana foi de indiadas.

Fomos a Porto Alegre às 18, fomos dormir à meia-noite para acordar às 5 da manhã para então pegar um vôo para o Rio de Janeiro às 6:45. Tudo isso para passar um total de 12 horas lá...e voltar! Irônico, não? Nunca fui para o Rio e quando vou é para fazer tudo menos passear. O coitado do Corcovado foi apreciado apenas à distância.

Eu e meu marido na realidade fomos lá para fazer a entrevista para seu visto de imigrante no consulado americano. A entrevista era às 13:30 e nós chegamos às 9:30. Portanto...muito tempo na mão, porém...nada para fazer! Em alguns lugares seria uma verdadeira blasfêmia reproduzir a frase que não existe nada o que fazer no Rio de Janeiro, mas quando trata-se de um casal sem dinheiro e medroso como nós, a realidade é exatamente essa. Para somar a todos os fatores, a menina desprovida de diversos tipos de inteligências chamada Marina Garner Assis foi de sapato! Sim...de sapato! Por tanto, todas as experiências passadas que envolviam mais de 15 passos de distância estavam basicamente fora do plano. Aparentemente algo aconteceu durante a minha gestação na barriga da minha mãe em que os meus pés não foram completamente desenvolvidos para usar sapato por mais de um certo período de tempo. Grande frustração...

Porém, foi uma manhã de grandes aprendizados. A primeira é que pessoas entediadas tendem a gastar mais dinheiro. Ainda terei que fazer este estudo...mas tenho quase certeza que acertaria na estatística que tendemos a gastar 60% a mais quando não temos mais o que fazer no meio de um centro comercial com um cartão de crédito na bolsa. Então lá fomos nós às 10:00 para uma lancheria, o Gustavo comprou um açaí. Enrrolamos por meia hora e começou a ficar aparente que não compraríamos mais nada então andamos alguns metros para uma outra lancheria, onde compramos um salgado. Lá ficamos até mais ou menos 11:30 matando o tempo com um interessantíssimo jogo de quem consegue memorizar palavras em hebraico mais rápido (flashback para início do namoro)!

Foi nessa lancheria, com o tédio simplesmente minando o meu cérebro, que passei a filosofar no que estava acontecendo. Ao nosso lado estava a cozinha aberta, mostrando os funcionários montando os sanduíches frescos. Ali estava um rapaz passando pasta de alho no pão e colocando na forma gigante. Durante a uma hora que estávamos lá este rapaz não fez outra coisa. Levanta o pedaço de pão, passa a pasta de alho não deixando ser demais mas também não sendo medíocre, e largando o pão em uma sucessão de pães virados para cima. Virei pro Gustavo e disse: "que coisa boa não é? Já pensou poder só fazer isso o dia inteiro? Sem stress, sem pressão, com os pensamentos voando para qualquer lugar? E quando você vê, já acabou o expediente e você volta para casa." Ele levantou os olhos das palavras hebraicas, olhou pro lado, olhou pra mim e devolveu sua mais pura devoção àquilo que estava fazendo antes de eu interrompê-lo com o meu devaneio sem noção.

Mas, desta vez deixando minhas opiniões para meu próprio raciocínio, repensei no meu devaneio. Pensei em todos os meus alunos. Pensei na matéria que eu leciono: ensino religioso. Eu preparo crianças e adolescentes a confiarem mais em Deus do que nos homens. Oriento-os a confiarem na Bíblia, a tirarem conselhos dela e a buscar em suas palavras o caminho da salvação. Eu aconselho jovens aflitos e preocupados. Eu oro com meus alunos, eu oro por meus alunos. Eu abraço e elogio algumas crianças que tiveram sua auto-estima destruida por alguém, ou que não tem a capacidade de confiar em mais ninguém a não ser seus professores. Eu levanto todos os dias pela manhã tendo a plena noção que posso fazer uma grande diferença na vida de algumas pessoas. Quantas pessoas podem dizer isso?

Na minha conversa com Deus hoje pela manhã, pedi a Ele para me mostrar algum dos meus alunos que precisasse de uma palavra vinda dEle, e que eu fosse o instrumento. Eu acredito que Ele me mostrou. Se eu fosse passadora de pasta de alho em pão, talvez esta oração não pudesse ser respondida, até por que, acredito que o alho não precisará de aconselhamento em algum momento de sua curta vida. Mas eu posso.

Naquele momento agradeci a Deus, e senti falta de não poder ter dado aula naquele dia. Claro, a vida de uma professora não é das mais fáceis. O barulho ensurdecedor de uma 5a. série, a perda gradual da força nas cordas vocais já no último período de segunda-feira, o olhar aéreo de um aluno que não poderia se importar menos com o que você está falando, os planejamentos intermináveis...algumas das coisas que faz você repensar a utopia do filme "O Clube do Imperador". Mas quando você lembra de tudo aquilo que você ganha em troca, cada segundo vale a pena.

"É bom ser professor, sora?" foi a pergunta de hoje no corredor pelo Sandro da 7a. série. A resposta sem pestanejar foi um sonoro "Sim". "Tem seus momentos difíceis, mas os momentos bons são maiores" eu disse ao entrar na sala e receber um abraço apertado do meu aluno Luis Henrique. O Luiz no meio da aula grita "sora, tu sabe que a gente te considera pra caramba, né?!", e sabe o que é incrível? Ele não queria nada em troca...

Eu amo ser professora. Muito melhor que passar pasta de alho no pão.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Viva a leitura!



Como queria dizer que tirei esta foto de uma revista. Existem certas coisas que você fica feliz em perceber que você não presenciou. Existe uma certa segurança em ver as coisas em um papel, fechadinho em uma revista. O fotógrafo pode ter visto, mas você não, então se torna algo um pouco menos real. Talvez até um sonho distante. Aquelas fotos de crianças esfomeadas na Somália. Fotos de bombardeios no Iraq, de estupradores, ou até mesmo de uma paisagem linda com montanhas e lagos verdes. A distância entre nós e a foto é muito maior do que física, é mental também.

Mas não posso. Pois essa foto eu mesma tirei. E pra mim, ela chega a doer na mesma quantidade que os outros tipos que mencionei. Por algumas razões, citarei apenas duas. Contextualizando, tirei esta foto de relance em uma visita a Nova York que fiz alguns anos atrás. Não consegui acreditar no que estava vendo. Tinha na minha cabeça que de alguma forma, pessoas de rua não aderem a leitura. Não sei se sou só eu ou o preconceito pegou pesado na minha cabeça. Mas, talvez sempre achei que eles tinham mais com o que se preocupar. Em vez de "será que o John vai conquistar a Jasmin de volta??" ou "eu aposto que foi o tio dela que matou a amiga da vizinha da dinda!", talvez preocupações como "será que aquela padaria aceita centavos de dolar para comprar um café", ou "será que vou sobreviver a -10 graus esse ano de novo?". A realidade que encontro nessa foto é fantástica e ao mesmo tempo extremamente irônica.

Em primeiro lugar, perceber que uma pessoa nessas condições teria vontade de aprender mais, de conhecer uma nova realidade, se entrar em uma outra dimensão que é a leitura me deixa absurdamente triste. Estranho ficar triste? Pois é, triste por que conheço adultos e crianças que morreriam antes de ler um livro por puro lazer. A leitura na nossa cultura transformou a leitura em um fardo, algo reservado apenas para os coitados dos estudantes e advogados do mundo. Para o resto, a leitura se resume às placas de rua e os "twits" no Twitter.

E em segundo lugar (para não tornar esse post mais do que alguns gostariam de ler hoje, rsrs), me dá tristeza por que eu sei o que alguns diriam ao ver esta foto: "tá vendo! o homem lê e ainda é pobre, por isso que não vou mais ler nada!". Típico raciocínio de gente inculta e sem noção. O pobre coitado certamente sofreu um infortúnio. Mas quer saber? vejo muito mais felicidade nesse olhar do que de alguns milionários! Até de boca aberta o homem tá! Teria que dizer que ele é mais afortunado que muitos de nós.

Talvez os mendigos sejam nós!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A santa rotina

Estranho. Muito estranho. Estou de volta à rotina. Mas esse não é o fato estranho, o que é estranho é que EU ESTAVA COM SAUDADES DELA! Depois de 19 dias longe de casa, longe do Ton, longe da minha cama, longe dos meus alunos, longe da escola...tudo fazia tanta falta.

Por mais podre de sujo que meu cachorro esteja, por mais vazia que esteja a geladeira e por mais que eu já consigo ouvir os gritos dos meus alunos amanhã...a rotina é necessária e voltar a encontrá-la é uma sensação maravilhosa. Viajar é maravilhoso (principalmente quando vc vai para o VERÃO!), e quando estiver no meio do semestre sei que rejeitarei esse texto como fruto de uma emoção momentânea e já ansiar veementemente o próximo encontro com o aeroporto. Mas, por hora, aproveitarei a alegria de estar de volta.

Um tempo atrás estava procurando cruzeiros. Não sei, existe algo encantador pra mim o fato de não fazer ABSOLUTAMENTE NADA e de repente acordar em uma cidade diferente! E ao ver a lista infindável de opções (de preferência algum com muita praia e calor!), me deparei com cruzeiros que davam a volta ao mundo. É um ano inteiro dentro do cruzeiro mas ao final você conhece o mundo inteiro....fenomenal...absolutamente fenomenal. Mas sabe o que acontece? Precisamos de um lar.

O fato é que não acredito que alguém possa ser completamente feliz sem um lar, algum lugar para a qual voltar, algum lugar em que verdadeiramente se sinta em casa.

Para aqueles que ainda não tem, ou nunca sentiram que tiveram ou talvez nunca terão. Eu creio fortemente nas palavras de Apocalipse 21:1. Um lugar onde poderemos gritar:

"This is home, I am finally where I belong"